A
história brasileira é marcada por diversos episódios em que determinadas
classes revoltaram-se contra a opressão a elas impostas. Como exemplos, os
quilombolas na época da escravidão, passando pelas revoltas pela independência
do país em relação à coroa portuguesa e, no século passado, a resistência
contra a ditadura, o movimento “Diretas Já” e culminando com o impeachment de um presidente da
República. Todos estes tiveram uma característica em comum: a luta se dava
contra apenas um ou poucos ideais.
Os
protestos populares que aconteceram no mês de junho deste ano ganharam um cunho
histórico não apenas pela quantidade de pessoas, e muito menos pelos atos
isolados de vandalismo que tentaram manchar a imagem dos manifestos, mas
principalmente pela vasta lista de reivindicações colocadas em pauta.
Os
primeiros protestos, que iniciaram em São Paulo, se deram em função do aumento
das passagens do transporte urbano. Porém, o fato gerador não necessariamente
foi o tamanho do reajuste, mas as péssimas condições que se dão esse transporte
(como em todas as grandes cidades), não justificando um reajuste. Mas outras
considerações devem ser levadas em conta.
O
fato de a polícia ter reprimido com violência desproporcional, a negação das
autoridades em rever o aumento e a cobertura tendenciosa da mídia sobre os
protestos causaram ainda mais revolta em toda a população, dando uma sensação
de censura ao direito constitucional da livre manifestação de pensamento. Logo
esse sentimento se espalhou por todo o país, deflagrando uma manifestação
generalizada em praticamente todas as cidades, seja saindo às ruas, com
cartazes e palavras de ordem, seja dando apoio de forma passiva, mas não menos
importante.
Decorrente
disso, foram vindo à tona as inúmeras insatisfações do povo brasileiro diante
de temas específicos, como as PECs 33 e 37 e o Movimento Passe Livre, bem como
de problemas que já são históricos no país e que a solução sempre foi sendo
procrastinada, como educação de qualidade, saúde de qualidade, segurança,
direitos humanos, corrupção, entre outros. Tudo isso junto formou uma onda de
manifestações como jamais vista no Brasil.
O
grande legado que fica dos protestos de junho de 2013 vão além das vitórias
conquistadas a curto prazo, como a
revogação do aumento das passagens não só em São Paulo como em muitas
outras cidades e a derrubada da PEC 37. A principal contribuição de todos que
saíram às ruas foi resgatar a autoestima do brasileiro, mostrando que o velho
ditado de “a união faz a força” é extremamente válido. A cabeça do brasileiro
nunca mais será a mesma. Em vez de ser um mero espectador, aceitando o senso
comum como verdade, vai começando a desenvolver uma atitude filosófica,
questionando o mundo que nos rodeia e os seres humanos que nele vivem. O gigante não está mais adormecido.